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domingo, 21 de junho de 2009

OBRA DE UMA MEMÓRIA

Diante de uma história com traços socialistas, foi desenvolvido um álbum sobre a história do Caldeirão, e como personagem principal o Beato José Lourenço.
Ganhando a história suporte na arte da Xilogravura, o álbum tenta registrar a essência vivida por um povo sofrido, trabalhador, romeiros do Pe. Cícero Romão e da Mãe das Dores, que almejava dias melhores.
A obra “O Caldeirão! A esperança de um povo...” composta de 12 xilogravuras, concluída em 1999, de autoria de Erivana D’Arc, consta das seguintes titularidades:


*A chegada de Jose Lourenço em Juazeiro do Norte;


Esta como capa do álbum, a xilógrafa enfatiza a missão que o Pe. Cícero aconselha José Lourenço tomar: que ele ajudasse aos menos favorecidos. Ainda muito jovem, José Lourenço, neste momento chegara com sua família em busca da terra prometida.


*O conselho do Padre Cícero, arrendamento do sitio Baixa D’Anta;
*O presente do padre Cícero o boi Mansinho;
*A venda do sitio Baixa D’Anta, a ultima reunião;
*A propriedade do Padre Cícero, o Caldeirão;
Esta nos traduz um momento de recomeço, do iniciar uma nova jornada.
*Terra de fartura e da promissão;
*Labor e oração;
*A seca de 1932, no Caldeirão encontro de refúgio;
*Morte do Padre Cícero, reivindicação dos padres salesianos;
*Planos de ataques;
*Invasão, massacres e centenas de mortos;
*Túmulo do Beato José Lourenço em Juazeiro do Norte;

Os títulos enfocados neste trabalho nos faz viajar por uma história de um povo que no seu momento histórico pensava além, em busca de melhoria na sua vida, na vida da sua comunidade, e por que não dizer, na vida da sua região, pois viviam em uma dinâmica de essência socialista.
Segundo o Jornal Revista - Tribuna do Ceará - Fortaleza, sexta-feira, 15 de fevereiro de 1991, em seu artigo “Vítima da Maldade” coloca “Jose Lourenço como uma das maiores vítimas da maldade dos homens de seu tempo, pois além de perseguido, seria apontado aos revolucionários de 30, por um grupo de invejosos, como sendo um elemento extremamente pernicioso”. Contudo, neste mesmo artigo elenca qualidades em Jose Lourenço que diante de varias perseguições sempre se comportou com uma admirável resignação, pois era um homem pacifista, dócil de natureza. Enfim, “era um homem de bem”.
A obra em si traz em suas matrizes a guarda de uma memória e a cultura de um povo que vivia num tempo e num lugar onde a partilha e a convivência solidária eram fatores sagrados.
Ao observar as xilogravuras encontramos traços de que nos reporta não somente as alegrias, ao trabalho, a harmonia, a oração, ao ser solidário, a união, mas também, aos conflitos, ao poder de luta, o descontentamento - visto na dicotomia socialismo versos fazendeiros. Enfim, o amor a uma missão que tragicamente termina...
Em contrapartida o momento vivido pela a artista plástica que desenvolveu a obra mantinha traços conflitantes - lutas de poder, o descontentamento, o buscar de um povo mais unido, o almejar de um salvador da pátria. O trabalho foi desenvolvido entre 1996 a 1999. Momento de busca e esperança na vida da Xilógrafa nos campos pessoal, estudantil, profissional. . .
Será que nas entrelinhas de cada traço feito pela xilógrafa não existe respingos da atualidade vivida pela mesma, e não só desta, mas, por toda uma sociedade de seu tempo?
Ao minuciar cada detalhe da obra é questionador, o porquê de tantos rostos sérios, tanta resignação, indagação, deixar acontecer, pacifismo...
“Eles”, encontrando respostas na necessidade - utópica ou não - de vitória, de solidariedade, na oração, no labor. Enfim na busca de um lugar ao encontro de refúgio. E nós? Muitas vezes sem utopias, ainda estamos a procura de caminhos que nos leve a tais respostas... Isto visto principalmente no momento da elaboração da obra...
Será que estes mesmo “donos do poder” de tantos anos atrás, que, no camuflar de uma “sociedade harmônica”: invade, massacra e mata, não continuam todos no mesmo lugar?
Consciente de que tais indagações a artista Plástica nunca fizera, a mesma se envolve em cada detalhe e num analisar de cada face, ver tão cruel e desumano o ser humano pode chegar, e tão indiferente, arrogante, perverso, e tirano o mesmo pode ser.
Será que a oportunidade e a criatividade são de muitos? Mas poucos abraçam suas missões?
Fiquei constrangida, ao notar que despir toda uma fase da minha vida, nas entrelinhas do álbum - O Caldeirão! A esperança de um povo... - Enfim todo um momento histórico do Brasil, estar aí, e por que não dizer vários momentos? Como disse pra mim um artista plástico da região – Petrônio – ao olhar a obra: “Erivana sua obra tem um quê de surrealista...” Confesso que não sabia nem o que significava esta palavra. E perguntei: - É mesmo? Onde? - Pois, só vejo nela coisas bem sertanejas, típico da minha infância e da vida dos meus antepassados –foram todos agricultores. Hoje vejo que Petrônio enxergara muito além; apesar de que para centralizar o trabalho no cotidiano que suponha ter sido vivido pelos habitantes do Caldeirão busquei na época (meados de 1996) subterfúgios em entrevistas com remanescentes da região (incluída Dona Maria de Maio, filha adotiva do beato), Livros, artigos de jornais(fornecido pelo Dr. Gilmar de Carvalho), e um filme “ O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” de direção de Rosemberg Cariry.
Por fim, nota-se que o implícito pode implodir muito mais que o revelador, e que “o oprimido, o que não tem voz, e nem vez”(será que não???), o aletrado intelectual, pode elevar sua cultura e denunciar seu descontentamento através das artes, do seu fazer artístico, tendo como armas: pincel, goiva, tela, madeira, vidro, plástico, palha, tecido, linhas, argila... instrumentos que geram sabedoria e dar autonomia capaz de absorver e fornecer conhecimentos mantenedores da memória independente de seu suporte. A grande importância estar em não deixar a história desaparecer.

Os Tipos Movéis


O tipo consiste na peça chave do processo de impressão tipográfica. Primeiro era necessário desenhar as letras e transformá-las em pequenos blocos, os chamados “tipos móveis”. Esculpiam-se letras, números, e sinais (caracteres) na extremidade de uma haste de aço. Posteriormente, estas hastes eram golpeadas com um martelo contra um metal mais mole (como o chumbo, por exemplo) e os espaços vazios que se formavam serviam de molde. Eles eram cheios com estranho fundido, obtendo-se os tipos. Depois de organizados em frases e parágrafos, os tipos ganhavam uma camada de tinta e eram pressionados contra o papel. Com esta técnica imprimiam-se as páginas utilizando sempre os mesmos caracteres. Terminada a tiragem dos impressos em papel, desmontavam-se os blocos tipográficos, posteriormente, os tipos eram reutilizados. Em todo o século XX, a tipografia tradicional foi responsável pelo surgimento de impressos como livros, revistas, jornais, folhetos e todo tipo de avisos comerciais.

Um pouco da arte da Xilogravura



A xilogravura é a arte da gravura na madeira. Está técnica de impressão consiste em gravar imagens na madeira mole (cajá, imburana, cedro ou pinho) com instrumentos cortantes (goiva, faca, canivete, estilete, formão, buril). O desenho é feito no papel, passado para a madeira com carbono, ou desenhando diretamente na madeira. Em seguida, começa a ser talhada para a finalização. Depois de gravada, a matriz recebe uma fina camada de tinta espalhada com a ajuda de um rolinho de borracha. Para fazer a impressão, basta posicionar uma folha de papel sobre a prancha entintada e fazer pressão manualmente, esfregando com uma colher ou mecanicamente, com a ajuda de uma prensa. A imagem sempre se inverte, como num carimbo, e a impressão pode-se repetir muitas vezes até que haja o desgaste da madeira.



A xilogravura, como ilustração para os folhetos, feita sob encomenda para determinado título, substituiu os clichês de metal. A xilogravura popular nordestina ganhou fama pela qualidade e originalidade de seus artistas e é considerada até hoje uma das expressões mais típicas e expressivas do Ceará e do Nordeste. É importante que os artistas e artesões permaneçam com as suas matrizes (e não cedam à sedução de compradores a vendê-las), pois são estas matrizes as verdadeiras mantenedoras e guardiãs de suas obras - e de toda memória iconográfica do cariri, cada vez mais extraviada e explorada comercialmente.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Poema de Clarice Lispector


No "Poesia, pra que te quero?" mini-curso ministrado no CCBNB em Juazeiro do Norte/Ce, foram objetos de estudos vários poetas e poetizas, dentre eles: Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Ferreira Gullar, Hilda Hist, Manoel de Barros, Vinicius de Morais, Andreína Vieira, Rita Apoena e outros. O mini-curso tinha como objetivo incentivar a leitura e o encontro do poema com o ser individual.

A Clarice Lispector atendeu as minhas expectativas e ao ler o poema desta, ela mim fez refletir, interpretar, questionar e saborear cada frase escrita:

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim aponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma.

Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. . . há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.

Quase quatro anos me tranformaram muito. Do momento em que me resignei, perdir toda a vivacidade e todo o interesse pelas coisas.

Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...

Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortas meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.

Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobre tudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer.

Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.

Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

(Clarice Lispector - 1947 Berna-Suiça / Carta à irmã)

O Carteiro e o Poeta


No filme O carteiro e o poeta a frase que mais me chamou a atenção: " A poesia não pertence a quem a escreve, mas àqueles que precisam dela". O poeta Pablo Neruda sintetizou tudo e mais um pouco ao fazer esta afirmativa, também explicitada no argumento que faz " que um poeta precisa conhecer/ver o objeto de inspiração", ninguém inventa algo do nada. E nos dar um receita fácil de como poetizar: "tente caminhar lentamente . . . e olhar a sua volta". O filme ganha mérito ao transformar a vida de um homem aparentemente simples e sem instrução em alguém capaz de modificar ou tentar modificar o seu meio.

Um elo com o passado




Em 1996 o artista plástico Abraão Batista ministrava um curso de iniciação a arte da Xilogravura. Primeiros trabalhos de Erivana inseridos neste campo e que posterior geraria vários momentos agradáveis para a mesma. . .

O beato José Lourenço



A partir de estudos incentivado pelo o Professor Marcelo do CEFET- UnEd de Juazeiro do Norte/Ce em 1995.2, uma equipe de alunos abordaram um tema - O beato José Lourenço e o destino do Caldeirão - onde todos os alunos daquela sala não tinham conhecimento, inclusive a futura xilógrafa Erivana D'Arc. Acerca do assunto foram feitas pesquisas, entrevistas, colhido dados históricos, visitado o Caldeirão. Tal trabalho ganhou repercussaõ na entidade, fixado a uma tese de doutorado do Professor da disciplina de História... e não parou aí, pois deste trabalho nasceu um álbum sob o título - O Caldeirão! A esperança de um povo... Obra finalizada em 1999.

A Xilógrafa Erivana D'Arc buscou enfatizar os seguintes aspectos: A chegada de José Lourenço em Juazeiro do Norte (sendo esta a capa); O conselho do Pe. Cícero, arrendamento do sítio Baixa D'Anta; O boi Mansinho; O labor e a Oração; O propriedade do Pe. Cícero, O Caldeirão; A seca de 1932... A invasão, dentre outros. Na história do Caldeirão o beato José Lourenço fazia a diferença. Portanto, era antipatizado pelos coronéis, e o porquê... descobrir nossa história é um passo importante para melhorar nosso presente e futuro. Conheça mais sobre este acontecimento daqui de nossa região(região do cariri/Ce)...